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Brincar é coisa séria

13/agosto/2020 - 09:34

Pode não parecer, mas brincar é coisa séria. O que para nós são simples objetos, aos olhos da criança podem se transformar em jogos emocionantes, amigos imaginários e aventuras pelo espaço; e é brincando que as crianças aprendem a dar sentido ao mundo. Para a criança a brincadeira é muito importante, assim como se alimentar e dormir. É através dela que as crianças aprendem e estabelecem conhecimentos de si mesmos e com o meio em que vivem. Enquanto se diverte a criança exercita o corpo, a imaginação, interage com o universo que a cerca, transformando quaisquer objetos em brinquedos fantásticos.

O brincar é um direito da criança. Todos os documentos que norteiam a Educação Infantil expressam e contemplam o brincar. A Base Nacional Comum Curricular bem como as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, apontam como eixos norteadores principais nessa etapa, as brincadeiras e interações. Segundo a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), a criança tem seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento que devem ser assegurados para que ela tenha condições de aprender e se desenvolver, são eles: conviver, brincar, participar, explorar, expressar-se e conhecer-se.

Ao brincar, além de se divertir a criança desenvolve a memória, a atenção, a imitação, a imaginação, a sua personalidade, a inteligência e a afetividade. Segundo Vigotsky, “O sujeito se constitui ao se relacionar em atividades caraterísticas humanas”. A brincadeira infantil, nesse sentido, é uma maneira da criança se expressar e formar sentidos do mundo.

As brincadeiras também têm suas etapas de desenvolvimento. Logo nas primeiras semanas de vida, já é possível brincar com o bebê; passar um paninho suave pelo corpo, olhar, conversar, cantar, contar histórias, são algumas das maneiras de interagir com as crianças, estimulando seu desenvolvimento. Em seguida a criança começa a brincar sozinha, manipulando objetos. Quando uma criança gosta de uma brincadeira, vai querer repeti-la várias vezes, o que não deve ser reprimido.

A alegria é uma das finalidades do brincar e essa alegria, por sua vez se torna uma ferramenta para a aprendizagem. A criança vive a alegria do jogo simbólico, também conhecido como faz de conta. Esse processo caracteriza-se por recriar a realidade usando os sistemas simbólicos da criança além de sua imaginação e fantasia. O brincar proporciona o desenvolvimento da linguagem, ou seja, a criança vai se socializar, aprender novas palavras, conversar e ouvir a conversa, ampliando assim seu vocabulário. Posteriormente, procurará companheiros para as brincadeiras paralelas. A partir daí ela desenvolverá o conceito de grupo e descobrirá os prazeres e frustrações de brincar com os outros crescendo emocionalmente.

É brincando que a criança pode se expressar, sendo que essa forma de expressão é uma representação de sua vida, que dá sentido as experiências que reproduz e sua relação com o meio em que vive. Ela pode interagir e ao mesmo tempo aprender a lidar com o mundo que a cerca e formar sua identidade. Esse crescimento emocional é superimportante para o seu desenvolvimento, pois através da brincadeira, a criança expressa seus sentimentos, dificuldades, facilidades, questões que observa em família ou no seu cotidiano.

 

As brincadeiras também trabalham a motricidade como andar, correr, pular, subir, descer e estimulam os cinco sentidos: olfato, tato, paladar, audição e visão, enriquecendo as descobertas das crianças. O brincar desenvolve a imaginação criadora, possibilita uma série de experiências significativas. Brincando a criança internaliza papéis,como por exemplo, mamãe e filhinha,  brincando de dar aula para as bonecas, de alimentar os animais, de colher com a ceifa. Permite que explorem o mundo e encontrem seu lugar nele. Ajuda aprender a vencer, perder, influencia no autocontrole, pois enquanto brincam as crianças, adquirem conceitos de valores, limites e responsabilidades. Esses fazeres todos experimentados pela criança é uma necessidade humana de estar consigo mesmo e experimentar ser o que quiser, como e quando quiser.

Os adultos muitas vezes ficam fascinados com a habilidade dos pequenos em manusear aparelhos eletrônicos e acreditam ser essa uma grande mostra de inteligência, uma vez que sua geração adquiriu tal habilidade de forma tardia e com muitas dificuldades, no entanto, não percebem a lógica simples das telas, para frente, para trás, liga e desliga, diferente da lógica complexa que é uma brincadeira, uma história, ou um faz de conta, nas quais não controlamos o que os outros envolvidos desejam. Quando não gostamos de algo ou perdemos, não é possível desligar, precisamos então construir novas saídas. A lógica das relações é a da complexidade.

O brincar está ligado ao prazer, a alegria, estar de bem consigo e com o outro. Brincando a criança expressa sentimentos. Através das interações as crianças também constroem memórias afetivas, que ficarão para sempre em sua vida. Uma simples bola, motiva, atrai, socializa, trabalha a coordenação motora, habilidades corporais, movimentos. O importante não é ter brinquedos caros ou em grande número, mas brinquedos adequados que proporcionem um grande número de experiências lúdicas. Quanto mais o brinquedo possibilite que a criança crie em cima dele e o transforme, melhor é para a criança. Muitas vezes o brinquedo é colorido, bonito, tem som, mas em alguns minutos perde o encanto.

Ao ingressar na educação infantil, a criança começa a interagir com os ambientes, que geralmente são diferentes daqueles a qual está acostumada e são expostas a uma diversidade de ritmos, objetos, ações e relações ainda desconhecidos por elas, mas esta diversidade de elementos é primordial para o enriquecimento das crianças. Na Educação Infantil, o lúdico faz com que o aluno expresse suas emoções, sendo esta fundamental no desenvolvimento da criança. A brincadeira deve estar incluída no contexto escolar, para assim, auxiliar na aprendizagem, sendo que está diretamente ligada a mesma, afinal “é brincando que se aprende”. Sendo assim deixamos aqui algumas  dicas  que são simples, mas que fazem toda diferença no desenvolvimento dos pequenos.

Dê tempo para que a criança possa explorar o material com que vai brincar, deixando que ela tente sozinha, mas estando disponível se precisar de ajuda. Estimule sua autoestima, faça com que ela se sinta capaz de aprender, dando-lhe o tempo que precisar. Encoraje suas manifestações espontâneas, permita que ela tome a iniciativa, introduza propostas novas, estimulando a resolução de problemas.

 

Nós professores, sabemos da nossa importância no processo do desenvolvimento infantil e buscamos  novas metodologias de ensino, criamos estratégias e práticas que sejam inovadoras e que busquem garantir um melhor aprendizado nesta etapa da Educação Infantil, atendendo as necessidades de cada criança sabendo que esta fase tem total influência na formação da sua personalidade.

Antigamente as brincadeiras tinham por finalidade estreitar laços afetivos, o brinquedo era visto como atitudes de lazer. Não reconhecíamos o valor da imaginação, da criatividade e das curiosidades como elementos da infância. Felizmente hoje, o brincar é resgatado na escola como um instrumento facilitador do professor no processo de ensino-aprendizagem.

Para a criança o brincar é como o trabalhar para um adulto, por isso a importância do adulto, da família, brincar com a criança, vivenciar, dar seu tempo. A criança que vivencia esses momentos cria vínculos sólidos e profundos com a família. Gabriel Chalita em seu livro, A Educação Está no Afeto, nos diz que “O lado maduro e experiente deve dar atenção ao lado que ainda está no início do processo de desenvolvimento”. A presença é fundamental, todas as experiências que envolvem um alto volume emocional provocam um registro privilegiado.

Pais que participam de brincadeira e questionam coisas simples estimulam a criança a encontrar uma solução. É importante que os pais e outros adultos participem com atenção e afeto, mas as crianças podem e devem brincar também livremente sozinhas ou entre si. Assim, as crianças podem curtir esse momento tão espontâneo e alegre, ao mesmo tempo que se desenvolvem plenamente tanto física quanto emocionalmente.

Além de ser uma figura fundamental em momentos sérios da criação dos filhos, os pais também são essenciais para ensinar que o brincar não precisa e nem deve ter a todo momento a interferência dos adultos, há momentos de diversão que devem ser mais livres da rotina e da mediação dos adultos, que são importantíssimos ao desenvolvimento saudável da criança. Ao se envolver em brincadeiras dinâmicas, levando os filhos a explorar o mundo ao ar livre, os pais os instigam a usar o corpo, correr, se aventurar e se arriscar.

Esse risco de errar e se machucar, quando assumido com a participação de um adulto, estimula a criatividade, a proatividade e a resiliência da criança, além de formar memórias e estreitar laços com os pais, que se tornam um exemplo a ser seguido e um porto seguro. Em um mundo no qual 50% dos pais afirmam não terem tempo para brincar com seus filhos e 84% das famílias recorrem ao uso de aparelhos eletrônicos, o movimento se torna cada vez menor, aumentando o índice de crianças sedentárias e obesas. Além das dificuldades de desenvolvimento emocional, pois as crianças acabam ficando cada vez mais sozinhas. Sem adultos que lhe ajudem a compreender quem são, qual seu lugar no mundo, qual seu valor. Isso está por exemplo numa brincadeira de esconde-esconde. As crianças querem ser procurada, encontradas, ver a alegria do encontro com elas no rosto do adulto, querem saber se eles sentem sua falta. Imaginemos quão angustiante é para uma criança quando escondida o adulto desiste de procura-la. As crianças precisam que seus pais encontrem tempo, em suas agendas, para brincadeiras, mesmo, que por apenas 15 minutos diários. Por serem tão importantes, esses momentos das crianças, precisam ser valorizados por todos.

Sabemos que em nossos dias o tempo parece fugir do nosso controle, desta forma é importante fazer de pouco tempo disponível grandes momentos de convívio com seu filho, ou seja, fazer desse pouco tempo um tempo de qualidade, isso não significa ficar horas brincando, mas no momento que estiver, que seja prazeroso, que o adulto permita-se brincar com a criança, esse tempo de qualidade fará com que a criança além de todas as aprendizagens construa também sua bagagem emocional positivamente, o que fará toda diferença em seu desenvolvimento, aprendizagem em toda sua vida. Afinal, sabemos que brincar é coisa séria!

 

Texto construído pelas professoras da Ed. Infantil, Coordenação da Ed. Infantil e psicóloga Escolar Carolina Zandona.

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